Ainda é cedo para mensurar os impactos da pandemia do novo coronavírus nas dinâmicas econômicas globais. Enquanto especialistas e acadêmicos analisam cenários, novas teorias para uma reorganização do mundo pós-pandemia começam a ganhar relevância. A Holanda lidera um destes projetos mais ambiciosos.
O governo de Amsterdã estuda um manifesto composto por 170 acadêmicos locais. O conteúdo, basicamente, aponta para a estruturação de um novo tipo de economia, baseado no decrescimento em busca de uma composição econômica mais solidária e menos predatória. Tal manifesto fora inspirado por um estudo encubado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, que tem como princípio “prosperar em equilíbrio com o planeta”.
“Imagino que tal modelo possa nos ajudar a superar os efeitos da atual crise”, disse a prefeito de Amsterdã, Marieke van Doorninck, em entrevista para o periódico britânico The Guardian. “Pode parecer estranho estarmos falando de um período após isso (pandemia de covid-19). Mas, como governo, temos que fazer. Isso vai nos ajudar a não regressarmos para mecanismos fáceis”, completou.
A pesquisadora de Oxford, Kate Raworth, especialista em alterações climáticas, é autora do livro Doughnut Economics (2017), que versa sobre o tema. “Quando, de repente, temos que nos preocupar com o clima, saúde, empregos, moradias e cuidado com a comunidade, existe uma necessidade (…) Não é apenas uma ideia alternativa de ver o mundo”, disse, ao apontar crises reais e sem solução fácil como a de moradias. A ideia é que a Holanda seja um laboratório deste novo modelo econômico.
Bases
Existem cinco eixos centrais no desenvolvimento da ideia econômica baseada no decrescimento. São eles, segundo o periódico EL Clarín de Chile:
- Passar de uma economia focada no crescimento do PIB, a diferenciar entre setores que podem crescer e requerem investimentos (setores públicos críticos, energias limpas, educação, saúde) e setores que devem decrescer radicalmente (petróleo, gás, mineração, publicidade, etc.).
- Construir uma estrutura econômica baseada na redistribuição. Que estabelece uma renda básica universal, um sistema universal de serviços públicos, um forte imposto sobre a renda, ao lucro e à riqueza, horários de trabalho reduzidos e trabalhos compartilhados, e que reconhece os trabalhos de cuidado.
- Transformar a agricultura para uma regenerativa. Baseada na conservação da biodiversidade, sustentável e baseada em produção local e vegetariana, ademais de condições de emprego e salário justas.
- Reduzir o consumo e as viagens. Com uma drástica mudança de viagens luxuosas e de consumo desenfreado, a um consumo e viagens básicas, necessárias, sustentáveis e satisfatórios.
- Cancelamento da dívida. Especialmente de trabalhadores e donos de pequenos negócios, assim como de países do Sul Global (tanto a dívida a países como a instituições financeiras internacionais).
Com informações da Rede Brasil Atual